segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A hora da estrela.

A HORA DA ESTRELA
Era uma noite escura, tão escura que parecia engolir a luz dos candelabros e postes que batiam de frio. Eu falava com ela como se pudesse ouvir algum tipo de resposta que não o assobio melancólico dos ventos, mas só os assobios ouvia. Os passos que dava na areia faziam estalos surdos e quase inaudíveis, que eram minhas únicas companhias. Peguei um graveto que quebrei com o pé como se agarra uma idéia elevada e de grande valor, uma idéia genuína e boa qualidade, uma idéia fidalga. Com o graveto em mãos fiz um sol com traços infantis, débeis, e esperava que aquele desenho de criança me parecesse acolhedor. Esperava dele brotar alguma luz imprópria daquela noite, mas o mar, que me acompanhou os passos desde léguas passadas levou para nadar com ele meu sol.
- Porque me tomas este lampejo débil de esperança? Queres me levar também a sanidade? Se é que me resta alguma que não se fez pipa ao vento frio... – Não houve resposta, só o assobio irregular, incômodo, frio e intransponível.
Dava passos cada vez mais arrastados, cada vez mais pesados até que vi no chão uma estrela digna das noites mais frias escuras. Vi uma estrela que meu mar me deixou como pagamento ao sol que me levara, uma estrela bela, cintilante, reluzente. Talvez não fosse tempo de fazer da noite dia, talvez não fosse hora de iluminá-la com um brilho de sol, mas por que não um brilho de noite? Aquela noite de nuvens que cobriam o céu, mas não o chão.
- Nunca estive mesmo na sombra, estive? – Mais uma vez silencio. Só um assobio leve, um assobio gelado, um assobio não mais tão sombrio, não mais tão cruel.
Quanto do mar são lagrimas dos homens que não sabem olhar as estrelas? Quantos prantos foram derramados pra baixo e quantos sorrisos esqueceram-se de olhar pra cima?
Então clareou, nasceu o dia, fez-se o sol, e tive saudade daquela noite bela, mas hei de vê-la de novo amanha. Afinal, agora sei onde procurar seu encanto, em que brechas olhar, que obstáculos terei no caminho. Quantos jamais saberão abrir a janela e olhar pra fora? Quantos jamais subirão as escadas e verão do teto a lua a brilhar?
Pedro Rios.

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